Conta a lenda que no século XII, altura em que os mouros ocupavam a Península Ibérica, os cristãos de Valência quiseram salvar o corpo de São Vicente, martirizado pelos mouros, transportando o corpo do Santo, por mar, para as Astúrias, na altura a única região cristã da Península Ibérica. Nesta viagem, o mar muito agitado forçou os cristãos espanhóis a aproximarem-se da costa e assim chegaram ao Algarve.

Forçados a permanecer no Algarve devido à presença de corsários na costa que os impediram de prosseguir viagem, aí construiram um templo em honra de São Vicente onde o corpo foi sepultado, tendo posteriormente sido formada uma pequena aldeia à sua volta.

Entretanto, na reconquista de território lusitano aos mouros, D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, chegou a terras algarvias enfrentando os ocupantes. Como vingança, estes arrasaram a aldeia dos cristãos de São Vicente. Mais tarde, D. Afonso Herinques receberia a notícia de que os restos mortais de São Vicente estariam sepultados no Algarve. Assim, rumou a Sul para trazer o corpo do mártir para Lisboa, mas quando chegou à aldeia esta estava totalmente destruída, não existindo qualquer sinal do local onde o corpo pudesse estar sepultado.

Foi então que avistou um bando de corvos que sobrevoavam um certo lugar e foi nesse lugar que o corpo do Santo foi finalmente encontrado. O corpo seria então transportado de barco para Lisboa em 1176 sempre acompanhado na viagem por dois corvos. Desta história notável, o corvo ficou como um dos símbolos de Lisboa na sua qualidade de guardião da cidade.

Mais tarde, nas primeiras décadas do século XX era comum avistarem-se à entrada das tabernas e barbearias lisboetas corvos, todos eles chamados Vicente, que eram ensinados pelos seus donos a correr atrás das pernas das senhoras para lhes dar suaves bicadas e a articular pequenas frases, como os papagaios.