Eu concordo com tudo isso que falou, mas há vários outros lados da questão, também, por assim dizer. Há um aspecto que você talvez não conheça, e a maior parte dos brasileiros não. O forte sentimento anti-brasileiro em Portugal, que é maior até, eu diria, do que o sentimento negativo que eles têm com relação a Cabo Verde e Angola, por exemplo. Brasileiros são os mais maltratados em Portugal, e o retrato do Brasil, nas redes de comunicação portuguesa, é, no geral, negativo. Não há como negar que os italianos são mais simpáticos aos brasileiros, de longe, do que os portugueses, que estão, facilmente, entre os mais hostis a nós (e já pude constatar isso pessoalmente inclusive no Brasil mas também no exterior; e por isso mesmo não fui nem irei a Portugal).
Concordo que no Brasil as ancestralidades italiana e alemã são privilegiadas, em detrimento da portuguesa. Vejo isso fácil no meu círculo de relacionamentos. Mas há outras razões por trás disso. No período colonial, os brasileiros de origem portuguesa eram maltratados e não tinham condições de ascender no aparato estatal por terem nascido no Brasil. Então há um longo ressentimento aí, e uma história difícil e complicada. Minha ancestralidade, por exemplo, é quase toda portuguesa, mas meus avós nunca falaram em portugueses, e sempre mudaram a conversa quando o assunto era antepassados. Não fossem as minhas próprias pesquisas, teste de DNA, não saberia que minha ancestralidade é quase toda portuguesa. Já o único antepassado alemão que tenho, um tataravô, é super mencionado no meu círculo familiar paterno. Tenho tio que aprendeu alemão, outros que buscaram os documentos dele, etc.
Esses textos aqui mostram a tensão no período colonial, mas eu poderia incluir outros.
Essa narrativa de Bento Furtado Fernandes de Mendonça é muito clara sobre as tensões que existiam (e se projetaram depois). Ele era filho do descobrido de riquezas mineirais Salvador Furtado Fernandes de Mendonça, de Taubaté:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Emboabas
Relatos Sertanistas, Afonso de E. Taunay, Ed. da Universidade de São Paulo
Assim é que Pedro Taques de Almeida Paes Leme descreveu Domingos Rodrigues do Prado, um luso-brasileiro importante no período colonial, que foi maltratado pela administração, e reagir, mandando bala no insolente militar:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Domingo...igues_do_Prado
Não se pode deixar de mencionar, também, que a exaltação do elemento português imediatamente coloca a questão africana e indígena. Os mais africanos e indígenas tendem a ter ressentimento, também, compreensivelmente. É só você se colocar no lugar deles para entender isso.
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