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NASCIDOS A 5 DE JULHO
Escolhemos os momentos como eles nos escolhem a nós.
A direita atravessa hoje uma crise política e cultural que é evidente para todos. O perigo que a espreita não é menor do que a oportunidade que abre – refundar-se e reconstruir-se para depois se federar. Este é o momento para iniciar essa tarefa.
Não é possível, por isso, ignorar a crise actual; cumpre antes renovar energias hoje envelhecidas. A direita não é e não será uniforme. Não é homogénea, declina-se na diversidade e recusa o pensamento domesticado por ostracismos ou hegemonias culturais. Daí que o nosso apelo exija uma ousadia, uma imaginação política sem precedentes e uma nova forma de pensar – uma forma de pensamento crítica, corajosa e criativa, que não se subordine aos lugares comuns do pensamento único, que hoje fazem da direita um refém cultural da esquerda.
É urgente romper com a tutela cultural da esquerda, com a agenda que nos é imposta e com a linguagem que nos é ditada. É urgente reafirmarmo-nos sem pedir licença aos guardiões das novas ortodoxias. É urgente propor o País que ambicionamos sem cinzentismos acomodados, nem moralismos rígidos. Já chega de fórmulas vazias como a “convergência com a Europa”. Basta de apelos repisados a “pactos de regime”. Dispensamos todos e quaisquer alibis.
Este é o momento de se fazerem ouvir vozes originais e jovens – com inteligência, arrojo e alegria. Queremos iniciar uma discussão intensa e frutuosa entre todas as direitas democráticas. Mas sabemos de onde partimos.
1 – Partimos da liberdade e da criatividade, numa sociedade aberta ao mérito, ao trabalho, à imaginação e ao risco responsável. E, por isso, recusamos a uniformidade e o conformismo socialistas, em particular os ditames ideológicos e sectários que esterilizam a cultura, corroem as instituições, fragmentam a sociedade, tornam a linguagem a sede de conflitos absurdos e mascaram projectos políticos que não ousam mostrar o seu verdadeiro rosto.
2 – Partimos da livre iniciativa económica e damos primazia à economia de mercado concorrencial. E, por isso, recusamos o burocratismo e estatismo socialistas, os pais da estagnação económica.
3 – Partimos da valorização da mobilidade social, da igualdade perante a lei, da multiplicação de oportunidades para todos, independentemente da cor da pele que se tem, da família onde se nasceu, do bairro onde se vive, ou da terra que se habita. E, por isso, recusamos a oligarquização da sociedade que o socialismo protege com a cumplicidade dos grandes interesses empresariais.
4 – Partimos da defesa intransigente do regime democrático representativo, do Estado de Direito, com uma genuína separação de poderes, com uma justiça rigorosa e reguladores verdadeiramente independentes. E, por isso, recusamos a omnipresença do Partido-Estado que tudo sufoca, corrompe e quer vergar aos seus imperativos.
5 – Partimos do princípio de que é possível vencer a pobreza, reparar os extremos de desigualdade injustificável que põem em causa a comunicação entre os grupos sociais, dar sustentabilidade ao Estado social e reinventar os mecanismos de coesão e de confiança cívica. E, por isso, recusamos o centralismo burocrático e a articulação das políticas sociais enquanto instrumentos ideológicos.
6 – Partimos da consciência realista de que são frágeis as estruturas civilizacionais, e sabemos que o perigo que espreita por cada brecha é o da barbárie. E, por isso, recusamos a agenda política das esquerdas e respectivas experiências sociais que dissolvem tudo o que é orgânico e institucional, todas as formas de solidariedade natural, da família à nação e a sua memória histórica.
7 – Partimos do valor da verdade objectiva dos factos, das virtudes cívicas, da integridade intelectual e da coerência política. E, por isso, recusamos a mentira como prática política, a reconstrução ideológica da memória histórica, e o redesenho sectário do nosso modo de vida às mãos da hegemonia cultural de projectos pseudo-revolucionários em que os socialismos apostam.
8 – Partimos da pertença a uma Europa livre, próspera, segura, transmissora do seu incomensurável património civilizacional e do seu irrepetível modo de vida, orgulhosa das suas nações como as suas unidades constituintes insubstituíveis, e sabemos que a âncora europeia é vital para Portugal. E, por isso, abdicamos dos consensos transnacionalistas tecnocráticos, dos projectos de construção de um super-Estado federal europeu e de todas as utopias pós-culturais a que ninguém pode verdadeiramente pertencer sem se converter numa espécie de órfão.
9 – Partimos do desejo do futuro e sabemos que Portugal pode ser muito mais do que uma sociedade sempre dependente, estagnada e corrompida nas suas instituições. Partimos da vontade de reforçar os mecanismos de renovação e de reconstruir as forças nacionais necessárias para as mudanças internas, que não podem ser sempre ditadas pelo acaso ou por acção das conjunturas externas. Numa palavra, partimos do desejo de rejuvenescimento cultural e de reformismo político. E, por isso, renegamos a amputação do futuro a que o socialismo nos condena.
10 – Partimos da convicção de que Portugal pode ter o seu lugar entre os povos mais livres, mais democráticos e mais prósperos do mundo. E, por isso, insurgimo-nos contra o imobilismo socialista e a sua concepção hegemónica do poder, que vê esse exercício como o alargamento de redes de dependências e clientelas, contra a colonização do Estado, que desvitaliza a sua autoridade, e contra a ocupação dos principais centros de decisão na sociedade, que torna o País cativo de compadrios e substitui a autonomia e a liberdade pela subserviência.
A tarefa de federar as direitas foi pela primeira vez consumada há quase 40 anos. A 5 de Julho de 1979, o PSD, o CDS e o PPM formavam a Aliança Democrática e abriam-se as bases para que em Portugal se estabelecesse uma democracia madura. A este legado acrescentamos as tarefas que se apresentam diante de nós e que aceitamos com alegria. Nós, os nascidos a 5 de Julho, e porque não somos socialistas.
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