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Hodiernamente, o Brasil encontra-se dividido regionalmente da seguinte maneira.
Contudo, esta divisão é relativamente recente. Considerando-se apenas o século passado, vários modelos foram adotados.
Segundo O Pensamento de Fábio de Macedo Soares Guimarães – Uma Seleção de Textos (https://biblioteca.ibge.gov.br/visua...s/liv29363.pdf), do IBGE, os principais critérios para a regionalização territorial são os naturais e humanos, sendo o último tipo preferível.
Como consequência do que foi dissertado, são apresentadas algumas das outras divisões propostas para o país por diversos autores, cada qual tentando levar em considerações diferentes prioridades.Na divisão para fins utilitários um problema precisa ser ainda considerado. Deve-se tomar por base as “regiões naturais'' ou "regiões humanas"?
O problema é delicado e deve ser resolvido, levando-se em conta as vantagens e as desvantagens que uma ou outra divisão oferece. conforme os fins que se teem em vista.
As “regiões humanas" teem a vantagem de levarem em conta fatores físicos e humanos (pois estes dependem, em parte, daqueles) sendo assim uma síntese, o coroamento dos estudos geográficos. Dado tal caráter de síntese, preferem alguns autores denominá-las "regiões geográficas", como o faz por exemplo GIRÃO ou simplesmente ''regiões'', como o fazem frequentemente os mestres da Geografia Humana (o que é, contudo, inconveniente, e denominá-las de "regiões naturais", pela confusão que isso acarreta). Por êste fato, o de levarem em conta toda a realidade geográfica, constituem elas uma base muito adequada para a divisão de ordem prática, quando se quer realizar o estudo dum país, tal como êle é num dado momento, comparando-se as suas partes entre si.
Teem contudo a grande desvantagem de serem "instáveis e móveis", como bem afirma CAMILLE VALLAUX . Tal circunstância é reconhecida por todos os geógrafos. GIRÃO, por exemplo, assim se expressa a respeito: "E, desde que nessa combinação entram elementos que, como especialmente sucede com a atividade humana, estão de contínuo sujeitos à lei da evolução, facilmente se compreende que as divisões regionais são relativas e que mudam segundo as gerações ... ''. Tratando de regiões econômicas, pondera Mc CARTHY: "Assim os limites da região não devem ser permanentes. Eles variam com as mudanças sociais e econômicas". Isso é especialmente verdadeiro em relação ao Brasil, em que os ciclos econômicos se sucedem com grande rapidez. Uma boa divisão prática para fins estatísticos deve ter uma certa estabilidade, afim de que se possa apreciar a evolução dum pais, através do tempo. Tal estabilidade não pode ser obtida se tomarmos por base ''regiões humanas". Se artificialmente fixarmos as regiões dêste tipo, dentro de certo lapso de tempo elas já não mais corresponderão à realidade.
As regiões naturais apresentam justamente a vantagem da estabilidade. (Está claro que tal estabilidade é relativa aos pequenos períodos que interessam à evolução humana, e não aos ''tempos geológicos"). Por êsse motivo elas constituem uma ótima base para uma divisão prática permanente, que permita a comparação de dados estatísticos em diferentes épocas. Acresce ainda que as regiões humanas, particularmente as "econômicas", na sua instabilidade, ora se distanciam, ora se aproximam das regiões naturais. O próprio progresso do comércio universal faz com que haja uma tendência à produção especializada. Muitas regiões que, antes, em economia fechada, eram obrigadas a produzir tudo o que lhes era necessário, com o progresso do intercâmbio podem dedicar-se aos produtos que melhor correspondam às suas condições naturais, “seguir a sua vocação", no dizer expressivo do Professor DEFFONTAINES. É o que afirma também PHILIPPE ARBOS, estudando o nomadismo pastoral : "Os progressos da civilização só teem feito servir ao modo de economia determinado pelas condições naturais". Está claro que tal tendência é constantemente perturbada, por outro lado, pela vontade humana, como seja, por exemplo, com a moderna autarquia econômica. Como guer que seja, podemos afirmar que as condições naturais são o fator básico, e que os fatos econômicos ora se afastam, ora se aproximam dessas condições.
Tratando-se duma divisão prática para fins didáticos, é imprecindível que seja baseada nas "regiões naturais", pois no ensino da Geografia o estudo do meio físico é fundamental, assume uma importância primordial. Somente uma divisão em “regiões naturais" poderá servir, de modo adequado, ao estudo da Geografia Física .
Quanto às desvantagens, é óbvio dizer-se que constituem o "reverso da medalha" das vantagens acima apontadas; justamente por serem estáveis, não podem as "regiões naturais" corresponder a cada momento à realidade geográfica tomada no seu conjunto, essencialmente mutável na parte que resulta da atividade humana.
O trabalho discute cada umas delas. Elas também podem ser melhor visualizadas aqui: https://geografiaxou.blogspot.com/20...l-mapas-e.html. É dada então a seguinte conclusão.
É preciso salientar que aqui o modelo mencionado como o já aprendido pelos brasileiros era, ao que me parece, similar ao proposto por Delgado de Carvalho, mas com Rondônia pertencendo à Região Norte.a) dentre as muitas divisões regionais do Brasil até hoje propostas, a melhor divisão baseada nas "regiões naturais", e portanto de acôrdo sobretudo com os fatos da Geografia Física, é a que foi proposta pelo Professor DELGADO DE CARVALHO e adotada nos programas do ensino secundário da Geografia, tendo-se em vista o atual grau de conhecimento relativo ao nosso território;
b) dentre as divisões em regiões econômicas, relativas portanto a fatos da Geografia Humana, a melhor é a que foi estabelecida pelo Conselho Técnico de Economia e Finanças (desde que os Estados de Maranhão e Piauí passem a ser incluídos na região Nordeste), tendo-se em vista a atual situação econômica do país.
Quanto à escolha entre essas duas divisões, convém reportarmo-nos às considerações feitas no capítulo e ("Base para a divisão prática") da parte II, e às conclusões gerais expostas à página 341. Uma divisão baseada nas “regiões naturais" tem a grande vantagem da estabilidade, permitindo um melhor estudo da evolução dum país através do tempo, pela comparação dos dados estatísticos referentes a diversas épocas. Uma divisão baseada nas "regiões humanas", e, em particular, referente aos fatos econômicos, permite um melhor estudo da situação dum país, num dado momento, quando for dada maior importância à comparação no espaço, de umas partes com as outras.
Notámos ainda que as regiões humanas, em sua instabilidade, ora se distanciam, ora se aproximam das regiões naturais (ver pág. 340). É o que talvez ainda venha a ocorrer no Brasil, conforme alguns exemplos que podemos considerar.
São Paulo, que pelas suas condições naturais pertence ao Brasil Meridional, é contudo, pela sua atual situação econômica, incluído na zona econômica de Sudeste, juntamente com Minas, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O laço mais forte que uniu êsses Estados foi sem dúvida o café; ora os três últimos não teem condições naturais tão favoráveis à lavoura cafeeira, como São Paulo, com a sua magnífica "terra roxa". Modernamente assistimos ao progresso dessa lavoura no norte do Paraná que apresenta condições tão favoráveis como as de S. Paulo . É provável assim que a produção de café caia naqueles Estados e continue a crescer no Paraná; nessas condições São Paulo tenderá, cada vez mais, a ter maiores afinidades econômicas com êste Estado, ao passo que se afastará daqueles. Se o Estado bandeirante incrementar a produção vegetal mais adaptada ao clima temperado, cada vez mais se integrará na região natural a que pertence.
Atualmente Baía e Minas apresentam poucas afinidades econômicas, pois as zonas mais prósperas de um e outro Estado muito se diferenciam. A proporção que ambos mais incrementarem o desenvolvimento do seu hinterland, sobretudo do vale do São Francisco, mais semelhantes se tornarão do ponto de vista econômico.
Como exemplo da instabilidade das regiões econômicas, lembremos que, no século XVIII, durante o "ciclo do ouro", Minas constituía juntamente com Goiaz e Mato Grosso uma zona econômica. O ''ciclo do café", no século XIX, deslocou aquele Estado para a região do Sudeste. E novos deslocamentos ainda poderão ocorrer.
Tais considerações pesam a favor das "regiões naturais” como quadros fundamentais para o estudo dum território. Lembremos ainda a opinião radical de GEORG VON MAYR (ver pág. 322) um dos mais ilustres mestres da Estatística, que aconselhava que os dados estatísticos fôssem referidos às regiões naturais. Acresce ainda que somente uma divisão déste tipo poderá ser adotada para fins didáticos, pois de outro modo não se poderá fazer de maneira adequada o estudo da Geografia Física. Se fosse adotada uma divisão baseada em regiões humanas, para fins administrativos, sobretudo estatísticos, teríamos então duas divisões oficiais no mesmo país: uma usada no ensino, outra na administração.
No caso particular da divisão atualmente adotada no ensino secundário, milita ainda uma circunstância favorável à sua adoção geral: quase tôda uma geração de brasileiros aprendeu a conhecer o território pátrio através de tal divisão, que tem demonstrado corresponder perfeitamente às necessidades do ensino, e assim as regiões que ela considera já são familiares à mocidade do Brasil.
Ao geógrafo, somente cabe fornecer ao administrador uma base para a divisão prática, única para fins administrativos, sobretudo estatísticos. Se ao administrador mais importar uma divisão que corresponda à situação econômica momentânea do país, então é natural que escolha uma divisão em zonas econômicas, embora tenha de alterá-la alguns decênios mais tarde. Se, porém, preferir uma divisão estável, permanente, que permita bem estudar a evolução do país, pela referência de todos os dados a quadros regionais fixos indicados pela natureza, deverá nesse caso basear-se numa divisão em "regiões naturais''.
O depoimento da Geografia é favorável a esta última solução.
Estão satisfeitos com a atual divisão regional? Alguma das propostas lhes agrada mais? Se imaginam alguma melhor, por quais razões seriam?
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