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O Cavaleiro Andante e os Doze de Inglaterra
Foi em Penedono, que nasceu Álvaro Gonçalves Coutinho, mais conhecido por O Magriço, um guerreiro português, um dos Os Doze de Inglaterra.
O Magriço é filho de Gonçalo Vasques Coutinho – “bom fidalgo da comarca da Beira”, conforme o designa o autor da crónica de D. João I – marechal do Reino, fronteiro da comarca da Beira, alcaide de Trancoso, Lamego e outros lugares, foi herói da batalha de Trancoso. Já de idade madura, tomou parte na conquista de Ceuta, onde “praticou feitos dignos da sua brilhante fama”. Na corte, desempenhou o elevado cargo de copeiro-mor da rainha D. Filipe de Lencastre. As suas façanhas levaram Mem Rodrigues de Vasconçelos, no cerco da cidade castelhana de Coira, a considerá-lo “tão bom como D. Tristão”, famoso cavaleiro da Távola Redonda.
Em 1408, D. João I, fez-lhe a doação da vila de Penedono, incluindo a jurisdição de Aveloso e Trevões. Faleceu em data posterior a 1433.
Luís de Camões foi o grande responsável pela divulgação do nome e das proezas do Magriço, ao incluir em Os Lusíadas, o relato dos feitos doze de Inglaterra.
Consta que, nos finais do século XIV doze damas inglesas, tendo sido injuriadas por palavras proferidas por outros tantos cavaleiros também ingleses, apresentaram queixas ao Duque de Lencaster, pedindo-lhe que , pelas armas, assumisse a defesa da honra ofendida.
O Duque, não querendo afrontar directamente esses cavaleiros, para não agravar um problema interno, logo se lembra de doze cavaleiros portugueses que conhecera, ao lado do rei de Portugal, seu genro, aqui combatera as tropas de Castela.
Cartas são enviadas pelas damas e pelo Duque a cada um dos cavaleiros portugueses e a D. João I, que autoriza a expedição a Inglaterra, onde, em torneio, os portugueses se bateriam contra os ingleses.
É aparelhado um navio que parte da cidade do Porto, levando todos os cavaleiros excepto o Magriço, que comunica aos seus colegas de armas que prefere fazer a viagem por via terrestre, a fim de saciar a curiosidade que tem de conhecer novas terras e novas gentes. Esta viagem será difícil e demorada, tanto mais que o nosso herói aproveita para ir visitando os lugares importantes por onde passa, em Espanha, França e Flandres.
Entretanto, chegados a Inglaterra, os onze portugueses preparam-se para o torneio, e do magriço nem novas nem mandados, para grande desgosto da dama que ele iria defender. No preciso momento que iam iniciar o combate, eis que, com grande reboliço, o Magriço entra em campo, pondo-se ao lado dos seus companheiros. O confronto é breve e cruel e com alguns ingleses mortos e outros postos fora do campo, aos portugueses resta celebrar a vitória e receber as homenagens das damas desagravadas, antes de regressarem a Portugal. Todos, menos o Magriço, que, não resistindo à sua curiosidade e espírito aventureiro, por lá se deixa ficar mais uns tempos, ao serviço do Conde de Flandres.
Já anteriormente a Camões, são feitas referências a este episódio no Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, de Jorge Ferreira de Vasconçelos, editado em 1567.
Quanto ao Magriço e seus feitos, esses existiram mesmo e são atestados por documento existente na Torre do Tombo, uma carta datada de 26 de Dezembro de 1411, em que D. João, duque da Borgonha e conde da Flandres, reconhece os grandes serviços a si prestados por Álvaro Gonçalves Coutinho e, em agradecimento, concede privilégios aos portugueses na Flandres.
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